Sem passagem para o céu

Site-specific

[PATRICIA BORGES]

SEM PASSAGEM PARA O CÉU, 2022 

Obra site-specific para o Parque das Ruinas, RJ

Látex, cera, tule, vento e ferro

308 x 100 x 78 cm

Mais detalhes





A história dos espaços é também a história dos poderes. E, por extensão, sobre a confusão do público com o privado na intimidade do poder. Sobre a diferença entre fomentar a atividade artística como ação privada ou como preservação do patrimônio cultural. Encontrar ruínas Palladianas no seio dessa natureza mátria é refletir sobre a estrutura patriarcal do Brasil-colônia, onde oligarquias agrárias escravistas repetem as estruturas dos casarões de fazenda na urbe após a “independência”. No fim do século XIX, apesar das fachadas modernas em estilo neo-clássico importado, dos salões belle-époque, da literatura e modas européias, a maioria dos brasileiros - cidadão libertos, migrantes e posseiros - vivia numa pobreza bárbara. O sistema de clientela e patronagem perpetuou valores elitistas, anti-democráticos e autoritários que persistem até hoje.



Culturalmente estamos habituados ao argumento da ligação “natural" entre a mulher e o lar. Me interessa explorar a ideia de um ser estruturado pela esfera privada que acaba por incorporar-se à arquitetura doméstica e desenvolver certa opacidade existencial.


Nessa perspectiva, a construção da obra se dá com base na estrutura do lar que a limita e gera certo apagamento de anseios, das vontades e dos desejos femininos. Uma paisagem suave é elaborada usando a pele de Artemis. Penso na liberdade de elaborar outras formas para a vida, mais leves, macias e suaves. As forças que atuam sobre ela ativam sua membrana com a possibilidade de imaginar novas sensibilidades para si e para o mundo.


A pele-látex é leve e maleável e está em mutação constante. Não encontra ponto de estabilização, mas pontos variados e cambiantes com base nos quais se atualiza na relação com as transformações do mundo. Com o tempo irá se desgastar e romper. Desmascarando as tecnologias de poder investidas em seu corpo. Este rompimento abre possibilidades para a produção da diferença. Outro de si, outra mulher em combate, que alia-se aos próprios movimentos e arrebenta tudo aquilo que a aprisiona.