Estóica

Meus trabalhos resultam de uma tentativa de entender o mundo em que vivemos e dizer algo sobre ele. Muitos dos meus ensaios fotográficos contemplam uma narrativa feminina, mas não considero este um tema central no meu trabalho. Vejo a aparição recorrente de corpos e sentimentos mais como ficções poéticas. Não, necessariamente, declarações políticas.

Existe uma relação entre ESTÓICA e MEDEIA. As duas obras foram construídas simultaneamente e usando materiais semelhantes. Costumo trabalhar em várias peças ao mesmo tempo, quando não consigo resolver um problema (ou criar problemas suficientes) em um trabalho, parto para outra peça e volto a ele mais tarde. Em ESTÓICA, o elemento arquitetônico fotografado é novamente impresso em papel vegetal - material usado anteriormente para desenhos técnicos de arquitetura.

Em vez das aberturas que fotografei para o MEDEA, em ESTÓICA utilizo imagens de edifícios degradados. Ao mesmo tempo que me sinto desconfortável olhando para a decadência, sou atraída por essa estética do tempo.

Apliquei as impressões em recortes de vidro posicionados entre os cílios, que foram então dispostos como um edifício de vários andares. A pintura escorre pelas paredes das fachadas fotografadas como um rímel na chuva.

O elemento secreto também está presente aqui: embora a arquitetura criada permaneça destemida e sóbria na parede - portanto estóica - todas as lâminas de vidro afiadas estão prestes a cair.

Patricia Borges