Videopoesia
[MARIA OLIVIA APORIA]
Facas, frutas y flores ou delicados objetos de tortura, 2020
(Parte 2)
videopoesia
5’30’’
1920 x 1080 HD
Trilha sonora original: LUMANZIN
Masterização: LUMANZIN
Atenção: Últimos do estoque!
Data disponível:
Facas, frutas e flores ou delicados objetos de tortura
COSTELAS DA OUTRA
Dos maiores medos que guardo, além de tubarão no chuveiro: tênias - e talvez chamem-as de "solitárias". Principalmente porque antes de qualquer dieta forçada, entre a intolerância a lactose e romper o cordão umbilical, sempre muito me apeteceram as carnes cruas e o gosto de terra em folhas mal lavadas. E deve ser por isso que fumo tabaco.
De vermes e hospedeiros, já guardei todos... até de mosca sair voando da cabeça. Menos tênia. Só que desde que precisei decorar, pra prova oral da escola, o grupo dos anelídeos e dos platelmintos que a sombra e regurgito de um bicho todo enroladinho que se acomoda quentinho e gosmento pelos intestinos e se recusa a sair pelo cu, me paira a garganta. Coisa de gente que nunca reparou muito bem onde deita e que insiste em sempre levar coisa errada à boca - antes fosse o caranguejinho que se emaranhou nesses nós , e que só com tesoura se resolve, do meu
cabelo;ou o escorpião que picou pra me lembrar que não se deve nadar no escuro em piscina abandonada.
NÃO SOU PÁSSARO, CAMA OU GRAVETO
Mais nova, fui vidrada em sapos - antes de gostar de tomar banho na companhia da tartaruga tigre d'água que cresceu para além do aquário e precisou morar na banheira. Meus sapos de agora botam opulentos ovos, urubus continuam meus pássaros preferidos e ainda chupo dedos enquanto zelo o falecimento de um besouro debaixo do sofá, relevo asinhas de siriri em todo o móvel da tv e controlo com rabo do olho os movimentos de uma mariposa na lâmpada de cabeceira.
Por hora, meus dentes não caem mais e só enquanto por isso não falo pelos mortos, não falo pelos bichos, não falo por mim ou pela boca. Sugo o sal dos cabelos, digo tudo pela garganta.
Dos bichos de seda sendo criados na lua, reparo que um se acomodou na minha cama - onde também mora, debaixo do terceiro travesseiro, uma aranha. Porque não sei se gosto mais de falos ou cactos. E não pretendo devolver o livro que ela me emprestou, porque gosto muito do livro e nem um pouco mais dela.
UMA NUVEM OU UM BERRO QUALQUER
Na noite passada sonhei com um passarinho preto e doente que rasgava meu peito e se engalfinhava lá dentro. Me apaixonei por um cachorro-peixe.