Óculos-oráculos

Óculos-oráculos faz parte da série Objetos intercalares [1979-2010]. A criação de objetos poéticos e espaciais está presente desde o início da pesquisa de Xico Chaves com materiais minerais e industriais. Desta forma, as diversas séries intercalam-se ao longo do projeto de pintura e criação poética, tornando sua produção ininterrupta e resultando em obras isoladas, sendo algumas temáticas e outras aleatórias. Representam a experimentação permanente, ou mesmo um descanso da pintura, da poesia escrita e do poema visual. Nestas obras, é frequente a alusão à arqueologia, ao tempo de corrosão e permanência de objetos cotidianos que vão se tornando obsoletos ou cuja matéria, em um tempo cada vez menor, fica fora de uso. A “petrificação” desses objetos resulta em uma espécie imaginária de “fósseis contemporâneos” que vão se formando em nosso dia a dia sem que sejam percebidos de imediato. É uma precipitação de seu destino final, uma aceleração do tempo de uso, a formação antecipada de uma memória futura em tempo presente, transmutação para o passado de objetos e referências que ainda estão disponíveis e continuam funcionais. Muitos deles são associados a brinquedos infantis, acompanhando os desenhos e pinturas da “série Joanna”. Fazem alusão ao jogo e ao imaginário infantil que incorporam humor e crítica ao criar uma distância entre a intenção ocasional e lúdica a temas políticos, absurdos e nonsense. Foram pensados também para serem realizados em grandes dimensões. Há comentários, narrativas, diálogos, associações livres ou direcionadas e incorporação de fenômenos naturais e alquímicos, efeitos de refração/reflexão de luz, magnetismo, inclusão de palavras impressas e desenhos. Dão a impressão de que tudo pode ser absorvido pela matéria e pela desmaterialização ao ponto de se desdobrarem em ressignificações e comentários contraditórios, assim como pode sugerir sua autodissolução. São objetos que apontam ainda para uma liberdade absoluta de expressão e interpretação. Surgem de qualquer observação sobre a natureza, nosso transcurso cotidiano e nosso ponto de vista. Podem evoluir exponencialmente, sem indicar um ponto final. Objetos intercalares foram apresentados parcialmente em exposição na Galeria Candido Mendes de Ipanema no ano 2002, simultaneamente à exposição Arqueoplanos no Centro Cultural Laura Alvim (RJ). Reúnem linguagens e materiais diversos, ora classificados como livro-objeto, arqueologia do futuro, poema-objeto, objetos não identificados, poemas-processo, com títulos que variam conforme o contexto ou o momento em que são mostrados.