CORPOS EM TRÂNSITO COM DISPOSITIVOS DE ALTERIDADE
Jorge Cabrera
O epicentro deste trabalho de conhecimento, por essência, visual, está na força do corpo como instrumento de alteridade, de resistência, em arte contemporânea. Inicia-se a partir do estudo de linguagem de um conjunto de “máscaras” [que no contexto deste trabalho é uma denominação limitadora para tudo que elas significam], da nação indígena amazônica, brasileira, Jurupixuna. Essa nação foi declarada extinta no século XIX e os dispositivos, de que falo, fazem parte da coleção “objetos filosóficos do século XVIII” divididos entre o Museu da Ciência de Coimbra e a Academia da Ciência de Lisboa, em Portugal.
As máscaras são uma mistura de seres que povoam a Amazônia. Animais de toda natureza, seres espirituais e homens sujeitos. Segundo estudos de Ronald Raminelli, eram objetos utilizados em rituais na mata, que posteriormente eram abandonados.
O trabalho aborda uma ressignificação simbólica partindo da criação de modelos, a partir dessas máscaras, que não são encaradas como reproduções. Os dispositivos me permitem transitar por espaços culturais ocidentalizados, com a finalidade de dar voz a apagamentos, ou tentativas deste, no contexto de uma América [ao exemplo do Brasil], que ainda discute as fronteiras com os povos originários. São dispositivos que só funcionam ligados ao corpo e dão caráter de sujeito ao artista. Sem estes objetos o corpo é objeto, no sentido de que o corpo é etnicidade quando se reconhece sua carga cultural.
“Dispositivos de alteridade como estratégias de inserção” vai na contramão de projetos de branqueamento ou etnocentristas, desenvolvidos entre o final do século XIX e início do XX nas Américas. Essas tentativas de apagamento indígena em um sistema de violência simbólica, encontram-se consolidadas na atualidade por meio das falas, do olhar distante e outras formas de não reconhecimento de ancestralidade. Por sua vez, a alteridade como o lugar onde se encontram os que são diferentes e se aceitam como tal, vem associada às fronteiras que ideologicamente se traçam no encontro de grupos humanos: grandes latifundiários ricos com camponeses pobres ou indígenas, grupos étnicos como índios, negros e brancos, entre outros.