ALEX HAMBURGER -BIOGRAFIA RESUMIDA
Nasceu em Belgrado, Sérvia, em 1948, tendo emigrado para o Brasil com sua família em 1954. Graduou-se em Ciências Econômicas pela Faculdade de São José do Rio Preto-SP, de onde vem para o Rio de Janeiro em 1973 e é logo atraído para as áreas da literatura e artes visuais. Em 1975, com o objetivo de abrir novos horizontes, empreende uma viagem à Europa onde reside em Paris por 6 meses, e em Londres por 1 ano e meio, o que lhe permite ampliar sobremaneira seus conhecimentos naqueles campos.
A partir dos anos 80 tem seus interesses e investigações voltadas para as possibilidades de fusão e entrecruzamento de linguagens, desenvolvendo trabalhos em Poesia Verbal, Visual e Sonora, Poema-objeto, Livro de artista, Instalação, Performance, Vídeo etc., tendo participado em diversas exposições coletivas e individuais, no país e no exterior. Publicou sete livros em variadas expressões, três CD’s de Poesia sonora e realizou diversos trabalhos em Arte Performance, alguns a quatro mãos com a artista Márcia X, com quem desenvolveu uma profícua parceria ao longo dos anos 80, contribuindo de uma forma decisiva para uma melhor aceitação dessas práticas no circuito de arte local.
Alguns de seus trabalhos figuram em destacados acervos de coleções particulares e instituições de arte contemporânea, no país e no exterior, como o MAM-RJ, Printed Matter Bookstore at Dia – Nova York; Compendium of Contemporary Fine Prints – Hamburgo, ICA (Institute of Contemporary Arts) – Londres. Vive e trabalha no Rio de Janeiro.
ALEX HAMBURGER E O ESPÍRITO DE CORPO
Desde os primeiros anos da década de 1980, início de suas atividades artísticas, teve seus interesses e preocupações voltados para as possibilidades de fusão e entrecruzamento de linguagens, desenvolvendo trabalhos em poesia verbal, visual e sonora, livros-de-artista, ações, instalações, ephemera, etc., tendo contribuído de forma decisiva para uma maior aceitação de algumas destas técnicas no circuito local e nacional.
No final de 1983 conhece a artista performática Márcia X, com quem desenvolve uma profícua parceria arte/vida pelos próximos oito anos (1984-1992), fase em que colocam em marcha um intenso repertório de realizações, que ia das ações corporais às publicações, de intervenções à debates sobre novas práticas, da arte do vídeo à hibridismos de vária ordem.
Há que se frisar que no período de 1984 a 1986, a produção da parceria foi especialmente prolífica, consolidando, segundo aguçados analistas, a presença marcante da dupla no cenário experimental da época, com destaque para as performances Anthenas da raça, Cellophane Motel Suíte (à partir da qual surgiu o pseudônimo ‘Márcia X”, com o qual ficou conhecida), ambas de 1985, e Tricic(l)age, de 1986, esta última executada durante o concerto de John Cage na Sala Cecilia Meireles que marcou o advento de uma nova estratégia de ação presencial que denominaram de interferência.
Paralelamente as atividades da dupla, A.H. desenvolve carreira solo de poeta, publicando o seu primeiro livro, Kit Seleções, em 1986. De extração performática, com diagramação e ilustrações de Márcia X teve seu lançamento na EAV – Parque Lage, RJ.
Ainda em parceria com Márcia, realiza, em 1987, as memoráveis Sex Manisse (Bar Mistura Fina – Ipanema, RJ), uma homenagem a poesia experimental portuguesa; as sardônicas Burro sem rabo (Galerias Funarte, RJ); Pathos, novíssimos, paixões paranormais (Galeria do IBEU, RJ); Poesia aérea (Circo Voador, RJ); I Macambiada volante (Espaço Brumado, RJ); J.C. Contabilidade (Bar Barão com a Joana, RJ), entre outras. Um ano depois (1988), lança pela editora Achiamé sua segunda coletânea de poemas, 110/220V. Com arte final de Márcia X., capa e contracapa de Mauricio Ruiz e Aimberê César, empreende a sua experiência inicial com poemas apropriados, ou seja, textos “não-poéticos” (notícias de jornal, contratos de locação, fait divers de revistas, etc.), que, ao serem deslocadosda sua função comunicativa original, passam a ensejar reflexões e questionamentos aos procedimentos padronizados em poesia. Sempre intercalando iniciativas individuais com a flexível parceria com a performer de Fabrica Fallus, prossegue nos dois últimos anos da década de 80, até mais ou menos o final de 1991, em seus esforços de propor formas e métodos alternativos de abordagem da produção poética experimental, quando então o ciclo ímpar da parceria definha espontaneamente, dando lugar a proposições e buscas de ordem mais pessoal.
Em abril de 1990 viaja à Nova York onde entra em contato com artistas do grupo Fluxus, Dick Higgins, Alison Knowles e Richard Kostelanetz, com quem mantém correspondência ao longo da década. No seu retorno ao país passa a desenvolver produções exclusivamente individuais, já iniciadas, como vimos, na década anterior, com a exposição Poemobjeto, EAV - Parque Laje (1990) e Livrobjeto, Galeria Saramenha (1991). Concomitantemente surgem, numa espécie de recuperação dessa técnica, os “livros de artista” Biologia de um mineroslavo (1991) e Grafemas (1992), ambos em ‘edição de autor’, com a colaboração do poeta Samaral, tendo em seguida participado da mostra Brasil: segni d’arte (1993), um panorama da produção brasileira desta modalidade, com curadoria de Márcio Doctors, estendida no ano seguinte ao CCBB-RJ. Neste mesmo ano lança pioneiramente no país o seu primeiro CD de “poesia sonora”, 12 Sonemas. A partir desta data inicia interlocução com o poeta sonoro paulistano Philadelpho Menezes, que tem como desdobramentos a participação nas seminais antologias Baobab (1995), arquivos de Enzo Minarelli, Bologna, Itália; Poesia Sonora hoje (1998), organizada por Menezes, São Paulo-SP; Homo Sonorus (2001), antologia internacional de poesia sonora, Kaliningrado - Russia, além de memoráveis eventos presenciais neste gênero poético, primeiro no Paço das Artes (1997), mais tarde um pouco no Itaú Cultural (1998), ambos na capital paulista. Entre 1993 e 1995, estabelece correspondência com o multifacetado artista Ricardo Basbaum, que se encontrava em Londres, ensejando, tempos depois, na publicação do livro Conversas – flying letters manifestos, publicado pela editora par(ent)esis – Florianópolis, 2013.
Consolidando uma atuação intertextual participa, no país e no exterior, de diversas mostras de características experimentais, algumas coletivas, podendo-se destacar uma interessante experiência como ‘artista-curador’ na mostra Palavreiro (Galerias Funarte, RJ, 1997), e Videoacción: el cuerpo y sus fronteras (IVAM, Valência, Espanha, 1998), um balanço da produção internacional de vídeo-performance dos anos 90; e individuais, com a instalação performática Engenheiro de obras feitas (Galeria Ismael Nery, Centro de Artes Calouste Gulbenkian, RJ, 1998).
A partir de 2000, sempre interessado em propostas polissêmicas, e já com uma considerável bagagem obtida ao longo de duas décadas, inicia a sua particular odisseia no espaço de novas aventuras no campo experimental, notadamente em Orlândia (2000) e Nova Orlândia (2001), das quais participa com trabalhos sob a égide da provocação, em confronto com a representação e a originalidade, dando sequência a um modus operandi que se tornaria uma de suas principais facetas.
Ainda em 2001, contribui em Deslocamentos do eu (Itaú Cultural-Campinas), e em uma reunião internacional de trabalhos de poesia visual, Brazilian Visual Poetry, (Mexic-arte museum, Austin, Texas), organizada pela artista visual Regina Vater. Em 2002 lança Hard Disk, seu segundo CD de uma trilogia iniciada com 12 Sonemas, e que inclui ainda o CD Tele-fonemas, de 2013, propostas que procuram explorar os aspectos fonetistas da palavra (poesia fonética) e do aparelho fonador humano (poesia sonora).
Se olharmos em retrospectiva, e dada a pretensão inovadora de que sua produção está revestida, pode-se considerar seu prosseguimento com Uma ulisséia (Galeria ‘A gentil carioca’, RJ, 2004), Faber Castle [Centro Oduvaldo Viana Filho – (Castelinho do Flamengo), RJ 2006], propostas que procuraram transcender os limites respectivamente da iconografia do objeto e do signo linguístico, cujo corolário acaba se verificando um ano depois em Poéticas experimentais da voz (Funarte/Minc/Petrobrás, 2007, Curitiba-Niterói), em parceria com Margit Leisner, onde as experiências simbióticas anteriormente descritas são aqui exercidas a plenos pulmões, contribuindo definitivamente para a renovação da poesia sonora performativa.
Na sequência, teve participações relevantes nos eventos Grito e escuta (Bienal do Mercosul, 2009); Obranome (Cavalariças – Parque Lage, 2009); Flatstation (residência em Amsterdã, 2010); Festival Performance Arte Brasil (MAM – RJ, 2011); Música de ação (Bicicletaria Cultural – Curitiba, 2012); Zebra significa (Saloon 79 – RJ, 2013); IMG – revista eletrônica ao vivo (Casa Daros, 2014), além do lançamento do seu sexto livro de poemas, Gazetas Esportivas (2014), uma leitura & homenagem ao libreto “Esportes & Divertimentos”, de Erick Satie.
Em 2015 e 2016, participa de edições do programa “Rádio Mirabilis”, MEC-FM, de Lilian Zaremba, discorrendo sobre rádio arte, e lança, em meados de 2016, no Oi Futuro do Flamengo , “Doctypes”, talvez o primeiro livro de poesia conceitual que se tem notícia no país, para encerrar o ano com Signos em rotação, alentada mostra retrospectiva dos seus 32 anos de atividades poéticas experimentais (1984 – 2016) no Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica – RJ, 2016, onde se pôde presenciar o seu vasto leque de produções e interesses: dos livros de “poesia verbal” aos CD’s de “poesia sonora”, dos “poemópticos” aos registros das “performances”, passando por ”poemas e livros-objeto”,“livros de artista”, “vídeo-arte”, “instalações”, “memorabilia”, “efêmera” e “documentos variados” (cartas, convites, fotos, depoimentos, etc.).